Cidade Criativa Pedra Branca

SUSTENTABILIDADE

Em respeito e a favor do meio ambiente

Prédio do showroom sustentável da Pedra Branca, projetado pelo arquiteto Ricardo Monti. Inaugurado em 2010, apresenta um dos primeiros sistemas
fotovoltaicos de Santa Catarina.

A valorização dos recursos naturais sempre foi um dos pilares da Cidade Pedra Branca, sustentando todas as decisões de projeto.

TENDO AS PESSOAS COMO PRIORIDADE, a Cidade Pedra Branca oferece condições de habitabilidade ideais para proporcionar bem-estar a seus usuários. E esta preocupação está evidente não apenas no projeto urbanístico proposto, mas em cada edificação erguida neste bairro-cidade conceito que tem a sustentabilidade como pedra fundamental. “O bem-estar do ser humano justifica-se sob os mais variados aspectos, seja pela simples satisfação pessoal, pela melhoria da qualidade de vida, ou ainda pelo aumento da produtividade que é fruto das condições de trabalho”, cita o engenheiro civil Fernando Oscar Ruttkay Pereira, professor titular aposentado do departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Criador do Laboratório de Conforto Ambiental da Universidade (LabCon), Ruttkay, com doutorado e pós-doutorado no tema, é pesquisador do CNPq nessa área e seu conhecimento contribuiu para a definição de critérios e técnicas que deveriam ser consideradas nos empreendimentos da Cidade Pedra Branca para que atendessem às necessidades psicofisiológicas dos seus habitantes, como ele define: o conforto térmico e visual.

Ao seu lado esteve a arquiteta María Andrea Triana Montes, mestre em Arquitetura e doutora em engenharia civil pela UFSC. Também pesquisadora, na área de sustentabilidade e eficiência energética, ela atua no Laboratório de Eficiência Energética em Edificações (LabEEE) da UFSC e comanda a Dux Arquitetura & Engenharia Bioclimática, em sociedade com o engenheiro Olavo Kucker Arantes, um dos fundadores e atual presidente do Conselho Brasileiro de Construções Sustentáveis (CBCS), consultor da Cidade Pedra Branca junto ao Programa Clima Positivo, da Fundação Bill Clinton. Juntos, eles atuaram no projeto do Novo Urbanismo da Pedra Branca, tendo participado ativamente desde a época de gestação da ideia entre os empreendedores. Olavo testemunhou o primeiro encontro do empresário Valério Gomes com o arquiteto e urbanista norte-americano Andrés Martin Duany, um dos sócios da DPZ, mentor do movimento chamado Novo Urbanismo. O encontro aconteceu em 2005, na conferência anual do United States Green Building Council (USGBC), em Atlanta, Estados Unidos. “Eles conversaram logo após a palestra de Andrés no evento. No dia seguinte, logo cedo, Valério viajou para Miami para apresentar o conceito da Cidade Pedra Branca para Andrés e sua equipe, no escritório da DPZ”, conta Olavo.

 

Promoção da sustentabilidade

A DPZ veio a ser a principal consultora na adaptação da nova centralidade de bairro que já estava sendo pensada pelos empreendedores aos preceitos do Novo Urbanismo.

“Adotamos os modelos propostos pela DPZ e colocamos a carga de sustentabilidade sobre eles”, pontua Olavo. Carga essa que já vinha sendo empregada nas primeiras edificações que começavam a ser planejadas para essa nova fase da Cidade Pedra Branca, como o prédio do call center da empresa Tivit, projetado pelos arquitetos Ricardo Vasconcelos e Ricardo José Monti, titular da MOS Arquitetura e Urbanismo – o qual também assina o projeto do showroom sustentável da Pedra Branca.

Mais tarde, inseridos nas Charretes realizadas com os arquitetos responsáveis pelo planejamento das quadras da nova centralidade de bairro, os consultores contribuíram para os ajustes necessários aos projetos na busca pelo máximo de conforto ambiental e pela eficiência energética das edificações – um dos principais desafios da arquitetura. “Uma das boas recomendações da DPZ aos arquitetos foi o miolo de quadra vazio e a variação de ocupação, tanto em altura dos prédios como em volume”, avalia Ruttkay. A promoção da sustentabilidade estava na pauta de todos os projetos, desde a sua concepção. Ainda assim, algumas premissas teriam de ser alteradas. “Participamos das últimas Charretes. Os arquitetos estavam com tudo muito pronto e teriam de fazer algumas mudanças”, conta Ruttkay. Entre os ajustes necessários estavam, por exemplo, a redução do uso do vidro e do tamanho das aberturas e a reconfiguração do layout interno, para promover ventilação cruzada.

 

Eficiência energética

A identificação de soluções para o aproveitamento máximo dos recursos naturais disponíveis e redução, ao mínimo, do consumo de energia elétrica nas edificações estava no topo das prioridades.

Para orientar os arquitetos responsáveis para essa missão, os empreendedores convidaram dois renomados especialistas para uma Charrete: o engenheiro mecânico e mestre em Arquitetura norte-americano Tom Paladino, titular da Paladino and Company, considerado uma das maiores autoridades mundiais em prédios verdes; e o engenheiro civil Roberto Lamberts, com mestrado, doutorado e pós-doutorado em Engenharia, professor titular da UFSC.

“Conhecemos Tom Paladino um ano antes em uma conferência sobre Ecobuilding, em Orlando. Fomos a Seattle mais tarde, na sede do escritório dele, para repassarmos os pontos do projeto da Cidade Pedra Branca com mais detalhes para ele e sua equipe”, conta Olavo. Membro do USGBC, Paladino teve importante atuação na definição dos critérios do sistema de certificação LEED. “Nosso papel foi o de alertar os profissionais para essas preocupações. Para que pensassem no maior potencial de condicionamento natural”, lembra Lamberts, coordenador do Laboratório de Eficiência Energética em Edificações (LabEEE) da UFSC, membro do Conselho Deliberativo e coordenador do comitê temático de energia do CBCS. Segundo ele, as decisões de planejamento da nova centralidade com as quadras com vão livre, edificações de diferentes usos, intensiva arborização e reduzido adensamento foram fundamentais para facilitar esse processo.

Aos arquitetos coube estender essa preocupação ambiental a todos os elementos do projeto. Entre eles, Lamberts cita a boa ventilação dos prédios, a escolha de cores claras para os acabamentos e o aproveitamento do sol de inverno e da sombra no verão. A especificação de teto-jardim também é elogiada pelo professor. “Os telhados da maioria das edificações das cidades são pretos, o que colabora para provocar o aumento da temperatura da cidade. O ideal é que sejam brancos ou vegetados”, aconselha.

A promoção da eficiência energética passa, também, por decisões simples de projeto arquitetônico: melhorar o microclima urbano, reduzindo as superfícies escuras – que absorvem maior calor do sol – e ampliar as áreas com vegetação; projetar “envelopes” mais eficientes, com aproveitamento da iluminação e da ventilação naturais, criando zonas de resfriamento evaporativo, de aquecimento solar passivo; e especificar eficientes sistemas de iluminação artificial, com o uso de lâmpadas fluorescentes e LEDs, por exemplo, de maior durabilidade e rendimento; e de água quente, melhorando os projetos e a capacitação dos instaladores.

Na opinião dos consultores, o arquiteto tem um papel essencial a desempenhar, como líder do processo projetual e por ser a conexão principal entre todos os que participam do processo de produção do ambiente construído. “Ele está em posição privilegiada para, através de seus projetos, indicar o caminho para a sustentabilidade na arquitetura”. Segundo os consultores, muitos esforços têm sido dispensados, seja no aperfeiçoamento da formação dos profissionais envolvidos com a concepção e construção do ambiente edificado, seja na produção de normas e formas de garantia de desempenho ambiental. “Os meios estão à mão, as oportunidades fazem parte de nosso vocabulário diário. Não há necessidade de esperar por técnicas milagrosas ou descobertas exóticas”, frisa Ruttkay. Para eles, o que se exige é disposição para identificar os elementos essenciais de nossa cultura e separá-los das armadilhas desnecessárias e improdutivas.

“A Pedra Branca já nasceu com ideia de adoção de uma diretriz mais sustentável, com forte preocupação com o Novo Urbanismo, que traz conceitos gerais de sustentabilidade. Questões mais específicas relacionadas às edificações foram tratadas em algumas Charretes”, diz Andrea. Para ela, o fundamental para o sucesso de todo esse trabalho está no embrião da Cidade Pedra Branca. “O empreendedor estava interessado, aberto e voltado a essa finalidade”, afirma. “Valério foi contaminado por essas novas posturas”, brinca Ruttkay, referindo-se a Valério Gomes, idealizador da Cidade Pedra Branca.

Reconhecimento: certificações obtidas e entidades às quais a Pedra Branca é filiada.

Infraestrutura planejada

Gestão eficiente do sistema de água e esgoto, cabeamento subterrâneo, hortas orgânicas e ampliação da rede de ciclofaixas.

Ao priorizar a eficiência, a sustentabilidade e, principalmente, o pedestre – oferecendo a ele espaços públicos atraentes e seguros –, a implantação de cabeamento subterrâneo foi solução de consenso entre arquitetos e especialistas. Essa sempre foi uma das premissas do projeto da Cidade Criativa Pedra Branca. “A área da Pedra Branca denominada ‘Novo Urbanismo’ utiliza, em sua infraestrutura, todas as facilidades de forma subterrânea. Isto inclui água potável, esgoto sanitário, água de reúso, eletricidade de média tensão (13.800V), eletricidade de baixa tensão (220V), iluminação pública, telefonia e fibras ópticas e gás natural”, detalha o engenheiro civil Ramiro Nilson, gestor do Sistema de Água e Esgoto (SAE) Pedra Branca.

Segundo ele, trata-se de uma realidade implantada e em expansão, visto que todas as novas etapas de urbanização contam com essa concepção. A solução representa o aumento da eficiência dos sistemas, reduzindo custos com manutenção e operação das redes, e a redução do risco de interrupção de fornecimento de energia elétrica e telefonia. “A fiação subterrânea não sofre com as intempéries nem com o rompimento provocado por queda de galhos de árvores ou pela passagem de veículos com altura além do limite permitido”, argumenta o gestor do SAE, valorizando a segurança como uma das principais vantagens do cabeamento subterrâneo.

O SAE Pedra Branca é um importante aliado para garantir a preservação ambiental e a sustentabilidade do empreendimento. A atuação direta das equipes minimiza os índices de perda de água, contribui para o uso consciente dos recursos e para a responsabilidade pelo tratamento de efluentes. Na Cidade Criativa Pedra Branca, o foco principal do SAE está fundamentado na gestão de água e esgoto. No total, são 50.112 metros de rede coletora de esgoto, que garantem a cobertura de 100% do bairro. No entanto, a infraestrutura urbana também é uma questão importante para atender as demandas dos habitantes e usuários da Cidade Criativa Pedra Branca.

No bairro, as edificações contam com captação de água da chuva e reúso, aproveitamento da energia solar para aquecimento de água ou fotovoltaica e utilização de residuários, com separação de recicláveis, orgânicos e rejeito. “No último ano, observamos a tendência de aumento do uso da energia fotovoltaica e a disponibilização de novas ciclovias”, explica Ramiro Nilson. A rede de ciclofaixas da Pedra Branca totaliza, hoje, 15 quilômetros de extensão total integrada. A gestão eficiente do sistema de distribuição de água, com índice de perdas abaixo de 10%, e a gestão eficiente do sistema de esgoto, com redes coletoras que atendem 100% das construções do bairro, constituem ações dentro de um protocolo de práticas modernas de urbanismo, assim como a adoção de luminárias LED para a iluminação pública, que garantiram uma economia de 50% em energia.

Além disso, a gestão de PEVs – postos de entrega voluntária de recicláveis (vidros, metal, papel, plástico)–, disponíveis a todos moradores, e as hortas orgânicas no bairro também constituem elementos de trabalho do SAE, que contribuem no desenvolvimento do bairro-cidade, referência em promoção da sustentabilidade e da qualidade de vida.

 

Construção modular

No projeto de expansão do Colégio Bom Jesus Pedra Branca foi adotado o sistema de construção modular off-site, totalmente alinhado com os preceitos de sustentabilidade. Fornecido e executado pela construtora Brasil ao Cubo, de Tubarão (SC), o sistema consiste na utilização de módulos de aço que são completamente preparados na sede da construtora e transportados prontos para instalação no local. Assim, em apenas três dias, foram construídas cinco salas de aula, totalizando 540 metros quadrados. A metodologia adotada garante uma obra sem resíduos, sem desperdício, com maior controle dos custos e da qualidade e um reduzido prazo de execução. Clique aqui e assista ao vídeo da montagem da estrutura.

 


Matéria originalmente publicada na revista ÁREA apresenta: Cidade Criativa Pedra Branca, lançada em junho de 2020.

 

Assista ao vídeo e saiba mais sobre os conceitos de sustentabilidade da Cidade Pedra Branca.