Cidade Criativa Pedra Branca

ENTREVISTA

Na linha do “bom e velho urbanismo”, com Valério Gomes

Na idealização de um dos melhores lugares para viver em Santa Catarina, o empresário Valério Gomes fortaleceu a máxima de que uma cidade para pessoas é feita por pessoas. Aglutinou entusiastas, apostou no desenvolvimento de um Plano Diretor inovador, apoiado em pesquisas e na consultoria dos maiores especialistas mundiais em construções sustentáveis, em Novo Urbanismo e em cidades para pessoas, sem afastar-se do conhecimento técnico e da opinião dos profissionais locais que defenderam a prática do “bom e velho urbanismo”: centralidade compacta, usos mistos e valorização do pedestre. Nesta entrevista, ele conta como foi o processo de construção da Cidade Criativa Pedra Branca.

 

REVISTA ÁREA: Você costuma dizer que ficou apaixonado pelo conceito do Novo Urbanismo quando o conheceu. O que mais o atraiu?

VALÉRIO GOMES: Em 2005, o primeiro contato com o “Novo Urbanismo” foi na leitura do livro “Place Making” de Charles Bohl. No mesmo ano, participamos, em Atlanta, nos Estados Unidos, de um congresso chamado “Greenbuild International Conference & Expo”, realizado pelo US Green Building Council (USGBC), quando nos entusiasmamos com a palestra do arquiteto Andrés Duany, falando do Novo Urbanismo e do “Live, Work, Study & Play” num mesmo lugar. Entendendo esse conceito de um lugar para as pessoas, evoluímos os projetos, em processos denominados Charretes — workshops com duração de uma semana — liderados pelos arquitetos Max Rumis e sua esposa Marcela, que continuam conosco projetando os novos bairros. Todos juntos, e com um competente grupo de arquitetos locais, consolidamos o “Plano Diretor” da Pedra Branca. Isso já era em 2006.

REVISTA ÁREA: Esse conceito era considerado inovador, pelo menos no Brasil, na época do planejamento
da nova centralidade de bairro da Cidade Pedra Branca. O que o fez acreditar que a incorporação dos princípios do Novo Urbanismo daria certo no projeto do empreendimento?

VALÉRIO GOMES: Participando de congressos e vendo projetos urbanos bem-sucedidos no exterior… e, o mais importante, ouvindo nossos amigos arquitetos brasileiros confirmando que era esse o caminho do “bom e velho urbanismo”. Urbanismo com usos mistos e planejando uma comunidade com os 5 Cs: Completa; Compacta; Conectada; Complexa e com Convivência.

REVISTA ÁREA: A adoção das premissas do Novo Urbanismo foi determinante para a construção da “cidade para pessoas” que você havia idealizado há 20 anos, quando decidiram transformar a fazenda familiar em um empreendimento imobiliário?

VALÉRIO GOMES: Conhecer melhor o movimento do “Novo Urbanismo” foi um processo de amadurecimento. Convidamos nossos arquitetos locais e compartilhamos viagens e congressos, especialmente os eventos anuais
chamados de Congress of New Urbanism (CNU). Congressos que continuam acontecendo na América do Norte e que, aqui no Brasil, se desdobraram com a denominação de COMPLAN, realizado pela Adit (Associação para o Desenvolvimento Imobiliário e Turístico do Brasil). Esses eventos CNU, nos Estados Unidos, e COMPLAN, no Brasil, são imperdíveis para quem trabalha com comunidades e bairros planejados e sustentáveis. Alguns livros sobre cidades nos ensinaram e influenciaram muito, dos quais destacaríamos: Morte e Vida de Grandes Cidades – Jane Jacobs; Place Making – Charles Bohl; The Smart Growth Manual – Andres Duany, Jeff Speck, Mike Lydon; Triunfo das Cidades – Edward Glaeser; Sustainable Urbanism – Douglas Farr; Street Design – Victor Dover; The Rise of the Creative Class – Richard Florida; Cidade para Pessoas – Jan Gehl.

REVISTA ÁREA: Na idealização desta “cidade para pessoas”, você conseguiu atrair especialistas e parceiros de peso, referências nacionais e internacionais em suas áreas, que perceberam que a Cidade Pedra Branca era muito mais do que um negócio: era um sonho a ser realizado coletivamente na construção de um legado. Como foi esse processo?

VALÉRIO GOMES: Esse processo foi um grande e longo aprendizado. Os projetos sempre aprimorados por uma equipe maravilhosa e muito competente de profissionais e especialistas em diversas áreas que foram e continuam se incorporando. Acreditamos que nosso grande acerto foi aglutinar pessoas talentosas em torno do mesmo ideal, com inovação contínua e buscando sempre o melhor.

REVISTA ÁREA: Promover a vida urbana era um dos grandes desafios a serem enfrentados. Hoje, passados 20 anos, qual a sua sensação ao andar pelas ruas da Cidade Pedra Branca?

VALÉRIO GOMES: Caminhar, nas ruas da Pedra Branca, é pura satisfação e é, também, o que nos dá mais confiança no sucesso dos futuros e “novos bairros Pedra Branca”, que meu filho Marcelo e a equipe Pedra Branca estão projetando em outras cidades no estado de Santa Catarina. A missão da empresa — “desenvolver os melhores lugares para viver em Santa Catarina” — está consolidada numa equipe de pessoas entusiasmadas e com propósito.

 

Foto: Caio Cezar | Divulgação

 


Entrevista originalmente publicada na revista ÁREA apresenta: Cidade Criativa Pedra Branca, lançada em junho de 2020.