Cidade Criativa Pedra Branca

HISTÓRIA

Há 20 anos, uma cidade para pessoas

Cidade Pedra Branca: planejamento equilibrado e valorização da paisagem natural

De fazenda familiar a um bairro-cidade referência internacional em urbanismo sustentável, a Cidade Pedra Branca foi erguida sobre princípios sólidos e conceitos inovadores.

COMO CRIAR UM BAIRRO a partir do zero? Há 20 anos, essa era a grande questão nos debates entre os membros da família Gomes. Eles estavam determinados a transformar a fazenda que possuíam no município de Palhoça (SC) em um empreendimento imobiliário diferenciado. Localizado no entorno do Morro da Pedra Branca, e com privilegiada vista para este ícone da Grande Florianópolis, o bairro seria batizado de “Pedra Branca” – essa era uma convicção unânime.

Das incertezas em relação ao modelo a ser seguido, vieram pesquisas, estudos e parcerias, e a certeza do propósito: construir uma “cidade” para pessoas. “Existia uma fazenda de 250 hectares e a urbanização de Palhoça no seu entorno. Naquele início, sabíamos que precisávamos ter uma ‘âncora’, e a educação surgiu como a âncora transformadora”, recorda Marcelo Gomes, presidente da Cidade Pedra Branca. Estabeleceu-se uma parceria com a Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul) para implantação de um campus no local. “Trouxemos eles para o coração da ‘fazenda’ e, assim, nasceu o bairro Cidade Universitária Pedra Branca. Fomos batizados inicialmente assim”, conta o empresário.

A partir do planejamento urbano do bairro, com plano diretor desenvolvido pelo escritório Vigliecca & Associados e pela arquiteta e urbanista Silvia Lenzi, 2.000 lotes foram comercializados rapidamente, na parte horizontal da fazenda. “Vendíamos de 200 a 300 lotes por ano”, revela Marcelo. O empreendimento era prioritariamente residencial, com imóveis de elevado padrão sendo construídos no entorno da universidade e nas ruas adjacentes ao lago existente no local.

 

 

Novo Urbanismo: a transformação

De Cidade Universitária Pedra Branca, Cidade Sustentável Pedra Branca à atual Cidade Criativa Pedra Branca, a evolução do conceito acompanhou as inovações em planejamento urbano. 

As transformações do empreendimento, que atualmente registra uma população de 12 mil moradores, 8 mil trabalhadores e 7 mil estudantes, passaram por uma evolução do conceito, acompanhando a mudança de paradigma em relação ao planejamento urbano. “Havia uma parte do empreendimento a ser desenvolvida e decidimos buscar o que havia de mais moderno, considerando o que poderíamos fazer de diferente. E, então, conhecemos o ‘Novo Urbanismo’”, explica Marcelo.

O empresário revela o quanto ficaram “apaixonados” pelo conceito do Novo Urbanismo quando, em 2005, participaram de um congresso nos Estados Unidos cujo tema principal era “como construir bairros voltados para as pessoas”. “Ficamos, nos anos seguintes, estudando como fazer esse projeto, que viria a se tornar pioneiro no Brasil”, diz. Naquele mesmo ano, decidiram contratar o escritório de arquitetura DPZ Latin America – um dos mentores desse movimento que passava a ser adotado mundo afora –, coordenado pelos arquitetos argentinos Maximo Rumis e Marcela Leiva.

O conceito de bairro-cidade está inspirado em pequenos povoados europeus onde as pessoas cruzam com os vizinhos e este trajeto permite que elas se conheçam, que sejam mais tolerantes, gerando uma sociedade melhor. Assim, os empreendedores decidiram: “vamos pensar as cidades como eram pensadas antigamente, com uma praça e o comércio no centrinho. Vamos fazer as pessoas voltarem a se encontrar. Nós nos apaixonamos por esse conceito e
achamos que tinha tudo a ver com o futuro da Pedra Branca”, justifica Marcelo Gomes.

O plano diretor inicial, planejado no tradicional formato de “espinha de peixe”, passou a ser repensado. E uma nova centralidade de bairro começou a ser criada, com uma proposta inovadora que veio a ser reconhecida e premiada internacionalmente. Em 2007, o empreendimento conquistou o Prêmio de Urbanismo, na Bienal Internacional de Arquitetura de Buenos Aires, e, no ano seguinte, o Prêmio Financial Times de Cidades Sustentáveis, em Londres, promovido pelo Financial Times e Urban Land Institute. Em 2009, a Pedra Branca foi convidada pela Fundação Bill Clinton para integrar o Programa de Desenvolvimento do Clima Positivo, sendo o primeiro empreendimento da América Latina a assumir o compromisso de implantar soluções que ajudem a reduzir danos causados por gases do efeito estufa, e participou do encontro dos C40 em Seul, na Coreia do Sul.

Considerando que a Cidade Pedra Branca era um projeto em grande escala, os empreendedores entenderam que deveriam formar um time de peso. “Procuramos trazer a maior quantidade de profissionais possível, e aumentamos cada vez mais esse leque. E, então, surgiu a ideia de realizarmos o projeto da ‘Charrete’, juntando todos os arquitetos”, conta Marcelo, referindo-se ao método de trabalho adotado para o planejamento da nova fase do empreendimento. Escritórios de arquitetura de referência em Santa Catarina foram contratados para desenvolverem, em conjunto, o novo Masterplan. Os trabalhos seguiram a consultoria de especialistas dos escritórios DPZ Latin America, Jaime Lerner Arquitetura e Urbanismo e o dinamarquês Gehl Architects, e estudos contratados a laboratórios da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Além dos preceitos do Novo Urbanismo, seguiram, também, os padrões de construção LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), da U.S. Green Building Council. A chancela do conselho nacional de prédios verdes (GBC Brasil) foi uma importante conquista.

O ineditismo, a inovação e o reconhecimento, nacional e internacional, atraíram, também, os investidores. Em 2010, a Pedra Branca firmou parceria com o Espírito Santo Property Brasil (ESPB), braço imobiliário brasileiro do Grupo Espírito Santo – um dos maiores do setor financeiro de Portugal. Naquele ano, a Cidade Pedra Branca inaugurava o seu showroom de vendas – uma edificação de 1,2 mil metros quadrados, projetada pelo escritório MOS Arquitetura totalmente sob os conceitos de sustentabilidade, com estrutura em aço reciclado, fechamentos em vidro de baixa reflexão, painéis fotovoltaicos, ar-condicionado com gás ecológico, lâmpadas de baixo consumo de energia e torneiras com redutores de vazão. O showroom foi erguido ao lado do edifício corporativo de call center Tivit, que havia sido inaugurado três anos antes. O prédio também foi projetado pela MOS Arquitetura, em parceria com o arquiteto Ricardo Vasconcelos, conforme as diretrizes da certificação LEED.

Na inauguração do showroom de vendas, com maquetes físicas e eletrônicas de grandes proporções, painéis fotográficos e quatro apartamentos decorados do condomínio Pátio da Pedra – o primeiro da nova centralidade –, a Cidade Pedra Branca apresentava, pela primeira vez, os conceitos e os diferenciais do bairro-cidade que começava a nascer. Diversidade e resiliência são conceitos incorporados ao DNA da Cidade Sustentável Pedra Branca, cujo projeto urbanístico é constantemente aprimorado em função da sua influência sobre a dinâmica e a rotina de moradores, trabalhadores, empreendedores, estudantes e visitantes. Esta próxima década será marcada por ainda mais inovação, com a entrega do Aeropark, loteamento empresarial e aeronáutico, e do Reserva da Pedra, condomínio de lotes com praia e lagos artificiais em formato inédito em Santa Catarina.

 

Os pilares

As premissas do planejamento urbano da Cidade Pedra Branca foram estabelecidas a partir de cinco pilares que nortearam, e ainda norteiam, todo o desenvolvimento dos trabalhos. São eles:

PILAR 1
Densidade equilibrada – Compacta
A Cidade Pedra Branca foi planejada para acolher, num futuro próximo, 40 mil moradores, 30 mil trabalhadores
e 10 mil estudantes, de forma equilibrada. A quantidade de quadras planejadas e de empreendimentos seguiu cuidadoso planejamento.

PILAR 2
Conectada e sustentável
Na época do lançamento do bairro Cidade Pedra Branca, o slogan “Cidade Sustentável” acompanhava a comunicação e a divulgação do empreendimento. Porém, com o passar do tempo, entendeu-se que o conceito deveria ser ampliado, pois os moradores e usuários estavam também no foco do projeto. Assim, o slogan “urbanismo sustentável” foi adotado, tornando-se o grande ímã para atração de investidores e moradores.

PILAR 3
Prioridade ao pedestre
Na fase de planejamento, questões importantes passaram a pontuar o debate. Como o pedestre vai circular por aqui? Qual será a velocidade dos carros? O que é, afinal, uma cidade para caminhar? Essas reflexões surgiram a partir da leitura do livro “Cidade para Pessoas”, do arquiteto e urbanista dinamarquês Jan Gehl, referência mundial no tema. Traduzida para o português com o patrocínio da Pedra Branca, a publicação foi lançada no Brasil em 2013. “Ele entra numa escala que a gente não tinha desenhado: a do pedestre. Então, ele surge para mudar essa chave na nossa cabeça”, reconhece Marcelo. Decidiram, assim, rever todo o projeto e refazer a rua principal da nova centralidade de bairro, o que deu origem ao Passeio Pedra Branca, inaugurado em 2013. Uma nova e importante etapa era iniciada, e o conceito evoluiu para “Cidade para pessoas”.

PILAR 4
Uso misto, espaços públicos atraentes e seguros
“O conceito de ‘Cidade para Pessoas’ sempre esteve muito forte em nosso discurso. Sempre entendemos como é importante ter uma praça, um banco”, reforça Marcelo, argumentando que, quanto mais as pessoas usarem o espaço urbano, mais segurança ele proporcionará. Daí a decisão pela diversidade de usos, com imóveis residenciais e comerciais, oferecendo um variado mix de produtos e serviços para compras e lazer, estimulando a vida urbana durante o dia e a noite, e investindo em uma infraestrutura de segurança. Para estimular a vida urbana é necessário oferecer espaços públicos atraentes. “Nossos produtos têm de elevar o padrão das pessoas em relação à estética. Nessa apropriação do belo, chamamos os melhores arquitetos da região. O binômio ‘estética e sustentabilidade’ era considerado o tempo todo durante o planejamento, pois são fatores que não poderiam estar dissociados”, enfatiza Marcelo. A mistura de usos era outro pilar importante. E, nesse sentido, outra questão era recorrente: “como trazer mais empresas para cá?”. “Começamos a transformar Palhoça e a Pedra Branca em polos atrativos para o setor da tecnologia, aproveitando a ‘onda’ que Florianópolis estava surfando na época”, revela o presidente.

 

PILAR 5
Criativa & Complexa
As pesquisas e estudos de campo realizados pelos empreendedores sobre o chamado Novo Urbanismo incluíram uma visita ao “Vale do Silício”, nos Estados Unidos, região que reúne as maiores empresas de tecnologia do mundo, localizada a 60 quilômetros da cidade de São Francisco. Dentre as empresas visitadas esteva a CISCO, uma das primeiras a se instalar lá, na década de 1980. Durante a conversa, o gestor da empresa confessou que os Millennials não queriam mais trabalhar lá, pois preferiam estar perto do centro e fazer tudo a pé. “E então percebemos que era exatamente isso que estávamos oferecendo na Pedra Branca, e estava de acordo com tudo o que vínhamos lendo até então”, revela Marcelo. “Isso é uma cidade criativa”, celebra. Para ele, a densidade urbana é que faz a diferença. “A grande quantidade de pessoas em um mesmo lugar faz com que elas ‘se esbarrem’ e conversem entre si. Se as pessoas param de se encontrar, ficam isoladas e perdem, também, o contato com a realidade”, reforça. E, mais uma vez, o conceito da Pedra Branca evoluiu. A Cidade Pedra Branca tornou-se, então, “Cidade Criativa”

 


Matéria originalmente publicada na revista ÁREA apresenta: Cidade Criativa Pedra Branca, lançada em junho de 2020.

 

Assista ao vídeo e conheça o conceito da Cidade Criativa Pedra Branca.