Cidade Criativa Pedra Branca

ARQUITETURA E URBANISMO

Baseada na cocriação

O time de arquitetos de Santa Catarina contratados para cocriarem a nova centralidade de bairro da Pedra Branca: Renee Gonçalves, Sylvio Mantovani (in memorian), Taís Marchetti Bonetti, Roberto Rita, Daniel Rúbio, Nelson Teixeira Netto, Roberto Simon, Giovani Bonetti, André Schmitt (in memorian), Ricardo Monti e Silvia Lenzi.

O inovador método colaborativo para desenvolvimento da Cidade Pedra Branca resultou em soluções criativas e projetos eficientes.

“CRIEM UM BAIRRO IDEAL”. Esse foi o desafio proposto pelos empreendedores da Cidade Pedra Branca a um seleto grupo de arquitetos e urbanistas em 2006. O mote era a criação do novo centro de bairro do empreendimento sob os preceitos do chamado Novo Urbanismo. Profissionais de referência na região, contratados para essa missão, sentaram-se lado a lado para desenvolverem o projeto em conjunto, pela primeira vez. “Os resultados foram tão interessantes que essa metodologia passou a fazer parte da cultura da Pedra Branca”, afirma o engenheiro Dilnei Bittencourt, consultor da Pedra Branca.

A metodologia adotada foi a Charrete, idealizada por urbanistas norte-americanos nos anos 1980 para o planejamento de projetos e que seria adotada de forma inédita no Brasil. A prática consiste em reunir o maior número de envolvidos no desenvolvimento do projeto para debater, planejar e cocriar, de forma imersiva e eficiente. Considerando a grande escala do empreendimento Pedra Branca, os empreendedores entenderam que formar um grande time era fundamental. E decidiram contratar alguns dos mais destacados escritórios de arquitetura de Santa Catarina para atuarem de forma integrada: RC Arquitetura, comandada por Renee Gonçalves; Studio Domo, de Roberto Simon; Mantovani e Rita Arquitetura, de Roberto Rita e Sylvio Mantovani (in memorian); Marchetti Bonetti Arquitetos Associados, de Giovani Bonetti e Taís Marchetti Bonetti; NTN Associados, de Nelson Teixeira Netto; Desenho Alternativo, de Daniel Rúbio e André Schmitt (in memorian); e MOS Arquitetos Associados, de Ricardo Monti.

“O fato de esta metodologia envolver, num mesmo espaço e num prazo definido, os atores atuando frente a frente num clima ‘colaborativo’ gera um caldeirão de novas ideias e de soluções criativas que garantem o sucesso do projeto em estudo”, enfatiza Dilnei. As diretrizes estavam estabelecidas pelo escritório de arquitetura DPZ Latin America, sob a coordenação dos arquitetos argentinos Maximo Rumis e Marcela Leiva. A DPZ Latin America havia sido contratada pela Pedra Branca em 2006 para orientar o processo de transição da Cidade Universitária Pedra Branca para a que viria se chamar Cidade Sustentável Pedra Branca e, mais tarde, Cidade Criativa Pedra Branca. Ao lado da arquiteta e urbanista Silvia Lenzi, uma das autoras do plano diretor, eles estabeleceram os critérios básicos a serem seguidos. “Vamos construir um bairro onde as pessoas possam morar, trabalhar, estudar e se divertir ao alcance de uma caminhada”, frisou Silvia, um dos grandes nomes do urbanismo em Santa Catarina.

E cada escritório de arquitetura assumiu a criação de uma quadra do novo centro de bairro, porém, totalmente integrada com o todo. Era como uma gincana. Essa é a analogia que faz Silvia Lenzi ao referir-se à Charrete realizada. A cada mês um escritório apresentava seu projeto a todo o grupo e todos analisavam, discutiam, sugeriam alterações. “Era um laboratório urbano. Os arquitetos precisavam projetar o seu prédio, mas olhar o do ‘vizinho’, com olhar conjunto para garantir a qualidade do espaço público”, complementa Silvia. Todos participavam da discussão com o objetivo de melhorar o todo, em um aprendizado constante.

Os trabalhos seguiram a consultoria dos especialistas da DPZ Latin America e, também, dos escritórios Jaime Lerner Arquitetura e Urbanismo e do dinamarquês Gehl Architects, considerando, ainda, estudos contratados a laboratórios da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). “A DPZ trouxe questões como a volumetria nas quadras, os novos conceitos em relação aos pedestres, a tipologia das unidades, o uso e ocupação do solo, a cobertura das ruas e um padrão de unidade”, detalha Silvia.

Os pilares a serem fundamentados na Cidade Pedra Branca eram Densidade Equilibrada; Conectada e Sustentável; Prioridade ao Pedestre; Uso misto, Espaços Públicos Atraentes e Seguros; e Criativa e Complexa. “No mundo moderno, o nível de conhecimento acumulado pelos humanos, em cada disciplina, é de uma dimensão tal que, individualmente, não temos condição de assimilar. Qualquer novo projeto que desejemos desenvolver necessitará da atuação de diversos atores, cada um na sua especialidade. Se quisermos empregar a maneira tradicional de desenvolvimento de projetos – na qual cada um vai para seu mundo estudar a solução da sua especialidade – jamais chegaremos a um resultado satisfatório em tempo hábil”, reforça Dilnei Bittencourt.

 

Colaboração contínua

O projeto urbano da nova centralidade de bairro da Cidade Pedra Branca surpreendeu a todos desde o início, inclusive os arquitetos e urbanistas envolvidos.

“Fomos surpreendidos primeiro pela proposta para um bairro planejado, pautado em princípios de sustentabilidade e Novo Urbanismo. Depois, pela metodologia inovadora que trazia, envolvendo vários atores na discussão das ideias e construção das premissas, com escritórios estrangeiros, arquitetos locais, grandes nomes do urbanismo nacional, além dos empreendedores e de seu time. Foi um trabalho coletivo, colaborativo e de grande impacto no produto que produzimos a várias mãos”, considera o arquiteto e urbanista Giovani Bonetti, da Marchetti Bonetti Arquitetos Associados.

Para Silvia Lenzi, a prática da Charrete representou uma das suas melhores e mais ricas experiências como profissional. “Valério não mediu esforços para trazer os melhores consultores, que conversavam com a gente para desenvolvermos o projeto em conjunto. Trabalhavam conosco de igual para igual”, destaca a arquiteta, citando o empresário Valério Gomes, idealizador da Cidade Pedra Branca. “Era a visão técnica associada à visão de um empresário querendo fazer o melhor”, acrescenta.

Passados 14 anos daquela primeira Charrete, o grupo permanece integrado. “Ainda seguimos interagindo, contribuindo. E o que transparece é que cada um dos que fizeram parte deste desenvolvimento tem o sentimento de pertencimento ao bairro, comprometimento com o futuro dele. As lições que aprendemos e que nos foram oportunizadas nos abriram outros horizontes e aperfeiçoaram nossas práticas profissionais”, ressalta Giovani Bonetti.

 

 

Assista ao vídeo e confira a palestra ministrada por Helle Soholt, sócia-fundadora e CEO da Gehl Architects, na Cidade Pedra Branca. O escritório dinamarquês é referência mundial na construção de “cidades para pessoas”.

 


Matéria originalmente publicada na revista ÁREA apresenta: Cidade Criativa Pedra Branca, lançada em junho de 2020.