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Destaques

Reabertura da Ponte Hercílio Luz: “reencontro da cidade com o lugar”

Por dezembro 28, 2019dezembro 31st, 2019No Comments

Conectividade. Esta é a palavra-chave do projeto de reabertura da Ponte Hercílio Luz, em Florianópolis, símbolo cultural e turístico de Santa Catarina, tombada há 20 anos como Patrimônio Histórico, Artístico e Arquitetônico Nacional. A partir do dia 30 de dezembro, a estrutura volta a fazer parte do cotidiano de moradores e visitantes, mas com uma função muito mais abrangente do que a de passagem viária que desempenhou nos seus quase 60 anos de atividades, da inauguração, em 1923, até a sua interdição, em 1982. A prioridade é o pedestre e a vida urbana.

“Estamos trabalhando em um projeto de longo prazo que se chama Ponte Viva, o qual não vê a ponte como um equipamento voltado somente para mobilidade. É também a mobilidade, mas é cultural, patrimonial, turístico, de ocupação de espaços públicos, de lazer. E que, ao longo do tempo, vai reconstruir a história de um lugar, como uma frente urbana da cidade que estabelece um diálogo mais íntimo entre continente e ilha e uma proximidade que traduz uma escala mais humana”, afirmou o arquiteto e urbanista Michel Mittmann, secretário de Mobilidade e Planejamento Urbano de Florianópolis, em entrevista à revista ÁREA. Segundo ele, é esse conjunto todo que importa: “o reencontro da cidade com o lugar”.

Michel Mittmann, secretário de Mobilidade e Planejamento Urbano de Florianópolis

O projeto Ponte Viva – Hercílio Luz para as Pessoas tem diferentes etapas ou graus de abrangência. “Esta primeira trata somente da conectividade, carregada de características de urbanização favoráveis e humanizadas que vão sendo agregadas ao longo do tempo. Vamos ampliando cada vez mais essa conectividade, especialmente para pedestre, bicicleta e transporte coletivo”, destacou.

Este conceito tem sido a base do trabalho de Michel na administração municipal, desde 2017, quando assumiu a Diretoria da Região Metropolitana do Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis (IPUF), e, em janeiro deste ano, como Diretor Geral do IPUF. Além do Ponte Viva, outros projetos deste período são o Calçada Certa, o +Pedestres, o +Pedal e a formação da Rede de Espaços Públicos. Em abril de 2019, Michel deixou a direção geral do IPUF ao ser nomeado Secretário de Mobilidade e Planejamento Urbano.

Ocupação gradual

O cronograma de ocupação da ponte Hercílio Luz prevê exclusividade para pedestres, bicicletas e patinetes até o dia 13 de janeiro, período que contempla as festividades de inauguração. Clique aqui e acesse a programação completa. Após essa data, será permitida, gradualmente, passagem de transporte coletivo, incluindo os turísticos, escolares, táxis, veículos de emergência e de cargas, em determinadas situações. Veículos particulares deverão transitar pela ponte somente a partir de agosto de 2020.

“No segundo semestre vamos avaliar se existe a possibilidade de inserir o automóvel de forma controlada sob duas hipóteses principais que estão sendo estudadas: uma é a de limitar a passagem para horários que não são os de maior fluxo, ou seja, os de menor interesse; e a outra é ver, gradativamente, como criar um sistema de utilização apenas por veículos compartilhados, com três ou mais pessoas”, explicou Michel.

Para essa segunda hipótese ele considera possível a partir do uso de controle eletrônico, guarda, fotografias e outros recursos já utilizados para essa finalidade. “Ainda temos que pensar nisso, mas esse primeiro semestre é totalmente dedicado à operação de transporte coletivo. Queremos que, no dia 13, comecem a passar os primeiros ônibus. Porém, toda a etapa depende do sucesso da etapa anterior. E, se no dia 13 ainda houver muito pedestre ainda ou um grande fluxo de turistas que inviabilize, vamos segurar um pouquinho este início”, enfatizou. Esse acompanhamento constante será feito por um grupo de trabalho que envolverá o IPUF e a Secretaria da Mobilidade. “Vamos também buscar o apoio do Governo do Estado e das Universidades”, disse Michel.

A partir da abertura ao transporte coletivo, pedestres e ciclistas poderão fazer a travessia pelas duas passarelas laterais – uma novidade da reforma da ponte, pois a original possuía apenas uma passarela. “A do lado direito terá sentido único para as bicicletas no sentido ilha-continente. E a do lado esquerdo terá sentido continente-ilha. Os pedestres usarão as duas livremente”, detalhou o arquiteto e urbanista Marco Ávila Ramos, coordenador do projeto pelo Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis (IPUF), que também participou da entrevista à revista ÁREA.

“As pessoas voltarão a entrar em casa pela porta da frente”.
Arquiteto Marco Ávila Ramos

Há 35 anos no IPUF, o arquiteto Marco sente-se orgulhoso de fazer parte desse momento histórico para os catarinenses. “É o projeto mais significativo para a cidade. É a materialização de uma ideia”, comemorou. Para ele, as pessoas voltarão a entrar na Ilha de Santa Catarina “pela porta da frente”. “Se fizermos uma relação com uma casa, era como se tivessem fechado a porta principal e as pessoas começaram a entrar pela lateral”, comparou. “Passaram a entrar pela garagem”, completou Michel. “Exatamente!”, concordou Marco, “vão entrar de novo por aquela porta principal maravilhosa que estava lá e ninguém usava”. Do prédio da Secretaria, onde também está o IPUF, localizado na rua Felipe Schmidt, tem-se um visual privilegiado da ponte.

A Hercílio Luz, assim batizada em homenagem ao governador de Santa Catarina que teve a iniciativa da sua construção, é considerada a maior ponte pênsil com sistemas de barras de olhal no mundo. E representa um marco da engenharia mundial. São 821 metros de extensão total, dos quais 222,5 metros são referentes ao viaduto de acesso do Continente e outros 259,1 metros pelo lado insular, que se somam aos 339,5 metros de vão central. Os seus 28 vãos são sustentados por duas torres principais, com 74 metros de altura cada, e 12 secundárias.

 

Espaços humanizados

O desenho das cabeceiras da Ponte Hercílio Luz previu a integração de bulevares turísticos, humanizados. Na cabeceira insular, a conexão foi estabelecida com o Parque da Luz, que passa a ganhar um novo e importante significado com a reabertura da ponte. “Na região continental, estamos entregando o básico. Depois, queremos que se expanda para outros projetos nos locais hoje ocupados pelos canteiros de obras, que são terrenos do Governo do Estado que têm interface com áreas do município”, disse o secretário.

Segundo ele, há hipótese de realização de concursos públicos de arquitetura para o planejamento destas áreas específicas. “Pode ser uma Parceria Público Privada ou uma concessão que tenha um concurso de arquitetura no meio. É um modelo que ainda tem de ser definido”, pontuou. A entrega oficial da obra, com a desmontagem dos canteiros, está prevista para março de 2020.

Alguns conceitos já estão delineados para essas áreas, visões de possibilidades futuras apontadas. Algumas foram, inclusive, simuladas pela Desterro Arquitetos, empresa contratada pela Prosul, vencedora da licitação para o desenvolvimento dos projetos executivos do entorno. A Desterro elaborou os projetos executivos a partir dos estudos preliminares elaborados pelo IPUF, que permaneceu na coordenação do projeto. “Seria complicado abrir concurso nacional quando trabalhamos o projeto porque era uma batalha cotidiana sobre conceito. As intervenções são simples, foram baratas e deram muita dignidade para o lugar – algo que conseguimos fazer dentro do escritório de projetos do IPUF, junto com a Secretaria de Infraestrutura, com muito zelo e cuidado para propor o que fosse tangível”, ponderou. Segundo ele, foram investidos R$ 4 milhões nas obras, executadas em apenas três meses e meio. “Isso porque houve otimização de projeto anterior, ou seja, muito tempo de projeto e pouco de obra, como deveria ser a maioria das obras”, frisou.

É importante destacar que o projeto do entorno implementado corresponde apenas à primeira etapa. “Há mais três etapas já prontas para serem depois licitadas”, explicou Marco. “E outras certamente virão”, acrescentou o secretário. De acordo com Michel, será fundamental estabelecer um setor de planejamento diferenciado nas proximidades das cabeceiras a partir desses espaços. “E ter muito cuidado com a inserção das arquiteturas. Temos de ter programas diversos e bastante vigorosos no sentido de urbanidade e diversidade de usos”, alertou Michel. O Secretário de Mobilidade ressaltou, ainda, o caráter de irradiação da ponte Hercílio Luz. “A partir das conectividades desses projetos, teremos um elo fundamental entre baía norte e baía sul e suas orlas. Acreditamos que irá irradiar da ponte essa ressignificação e qualidade de fruição também das orlas, o que integra a questão dos fortes. Tanto a baía continental como a insular tem potencial para isso”, reforçou.

Para ele, a reabertura da ponte Hercílio Luz não encerra um projeto urbano. “A cidade é dinâmica e os projetos assim serão. Estamos fazendo uma condução processual de retomada de ocupação do espaço público para, agora, desencadear sucessivas interações com o lugar e melhorias que tem que ser bem gestionadas”, complementou.

 

Transporte coletivo como prioridade

“Só vai ter mobilidade com o transporte coletivo. Se colocarmos o automóvel, mais um lugar vai travar”, disse, categórico, o Secretário de Mobilidade e Planejamento Urbano. Segundo ele, somente considerando o conjunto de linhas de ônibus previsto para os primeiros seis meses, em torno 70 mil usuários do transporte coletivo serão transferidos das pontes Pedro Ivo e Colombo Salles para a Hercílio Luz. Isso sem considerar novas rotas de ônibus que serão criadas, os pedestres, os ciclistas, as vans escolares e os táxis. “Hoje, 300 mil pessoas passam pelas pontes. Deslocar 70 mil usuários para a outra ponte é muita gente. E são 70 mil pessoas que a gente quer que ande, e não fiquem paradas – esse é o paradigma pelo qual temos que batalhar”, destacou.

Michel enfatiza que a fluidez do trânsito em geral, o que envolve também o carro, é importante para o sistema e para a economia da cidade, contudo, é preciso compromissar para um novo modelo de cidade. “O nosso foco, a partir do ato da abertura da ponte e de outras ações, é o transporte coletivo. Temos identificado os gargalos do transporte coletivo e vamos melhorar, o que, por consequência, em alguns casos, vai melhorar para os carros também. Mas a prioridade é começar a ser uma guinada para o transporte coletivo, do contrário não vamos dar conta de resolver o problema da mobilidade na cidade”, considerou.

Como exemplo, ele citou o aumento do fluxo de veículos no centro de Florianópolis desde a desativação da Zona Azul, em virtude do rompimento do contrato com a empresa que administrava o sistema de estacionamento rotativo. “Em 15 dias, o volume de veículos aumentou 10%. Qualquer oportunidade, qualquer ‘bônus’ que se dá, cria a chamada demanda induzida. Se damos bônus para o carro individual, ele vem, e vai empilhar viagens no Centro”, argumentou. A região central da cidade já recebia demanda de veículos superior a sua capacidade. “Do total de viagens da região metropolitana, 20% vão para esse pequeno território, triângulo central. É muita viagem para um pequeno ponto da cidade”, pontuou.

A partir da reabertura da Ponte Hercílio Luz, linhas de ônibus conduzirão os passageiros a outras regiões da cidade, sem a necessidade de parada no Terminal de Integração do Centro (Ticen), o que deverá desafogar o trânsito na região. Com essas novas rotas, o usuário estará mais próximo do seu destino, o que reduzirá o seu tempo de deslocamento.  “Não se pode misturar participação e democracia participativa com planejamento. A legislação nos obriga a estabelecer prioridades – que são coletivas –  e, sobre isso, não vamos abrir mão”, afirmou, categórico, Michel Mittmann.

 

Cronograma da reabertura da Ponte Hercílio Luz:

30 de dezembro

Inauguração oficial da Ponte Hercílio Luz, com eventos para o público durante uma semana. Clique aqui e acesse a programação. Travessia exclusiva para pedestres e ciclistas.

13 de janeiro

Início da operação do transporte público na Ponte Hercílio Luz. Serão 12 linhas, sendo uma convencional, três executivas municipais e oito intermunicipais. Veículos de emergência e de turismo também terão passagem permitida.

3 de fevereiro

Ampliação das linhas de transporte coletivo, com dez novas rotas.  Táxis poderão trafegar pela Ponte Hercílio Luz.

17 de fevereiro

Novas linhas de ônibus convencional municipal devem a operar na ponte. Ônibus escolares terão passagem permitida.

2 de março

Início da operação de novas linhas de ônibus intermunicipais da Grande Florianópolis, incluindo uma nova rota que passará pela Ponte Hercílio Luz em direção à Rua Hoepcke e à Avenida Rio Branco.

16 de março

Mais 35 linhas de ônibus convencional intermunicipal da Grande Florianópolis devem  operar com passagem pela Ponte Hercílio Luz. Caminhões de carga (sem limite de peso) serão autorizados a usar a ponte; porém, a Prefeitura deve implantar um sistema de controle e categorização, com restrições de horário.

Agosto

Avaliação do sistema para liberação do tráfego de veículos particulares.

 

Na Galeria a seguir, os projetos para o entorno da ponte Hercílio Luz, incluindo visões de possibilidades futuras para ocupação das áreas hoje ocupadas pelos canteiros de obras (parte em azul nas imagens).
Projetos desenvolvidos pela Desterro Arquitetos, sob contratação da Prosul, a partir dos estudos preliminares elaborados pelo escritório de projetos do IPUF, que permaneceu na coordenação dos projetos.

 

Continente: 

Ilha: 

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