O projeto feito para um novo empreendimento de Florianópolis venceu uma das premiações de arquitetura mais prestigiadas do mundo, o AR Future Projects, promovido pela revista britânica The Architectural Review. O complexo Cais foi premiado na categoria de hotelaria e lazer e seu projeto foi desenhado para ser construído no bairro Jurerê Internacional, uma das mais badaladas praias do país e uma das áreas mais nobres da capital catarinense. O prêmio foi entregue no início de junho, em Londres.
A premiação AR Future Projects reconhece os melhores trabalhos arquitetônicos do mundo que representem uma janela para as cidades do amanhã. É imprescindível, no entanto, que eles não tenham sido construídos ou ainda estejam com a obra incompleta. O próprio nome do concurso já faz referência a isso: future projects como futuros projetos.
O complexo Cais inclui um hotel boutique, uma área residencial e uma área comercial de uso público, a serem construídos em um terreno de 20 mil metros quadrados. A incorporadora Unique MCA, de Florianópolis, que está à frente do empreendimento, queria, desde o início, trazer a área verde e a natureza do entorno – algo tão marcante no bairro – também para dentro do complexo. Para criar o conceito que já tinham em mente, os diretores da empresa contrataram o escritório Studio mk27, de São Paulo, que assinou o projeto vencedor. O escritório foi fundado no final dos anos 1970 pelo renomado arquiteto Marcio Kogan.
Projetos com propósito
Antes de criar o projeto do Cais, o escritório paulista Studio mk27 nunca havia atuado em Florianópolis. Então, precisaram estudar sobre a cidade e sobre Jurerê Internacional para entender o contexto e a direção de crescimento da região. Foram meses de preparação e uma série de reuniões e encontros, com visitas à capital catarinense.
A arquiteta Mariana Simas, sócia do escritório e diretora de criação, acredita que o propósito do empreendimento foi o que trouxe o prêmio ao Brasil. “Essa ideia de colocar um freio no potencial construtivo do espaço para, no lugar disso, preservar a qualidade do ambiente, dos moradores e de todos que passarem por ali é algo que não se vê em qualquer lugar”, conta.
De olho nisso e com o aval da Unique MCA, os arquitetos do escritório trabalharam para fortalecer a valorização da área, de forma a tornar o empreendimento uma extensão da cidade e não uma quebra dela, o que só afastaria quem passa por ali. “Não se trata de um terreno imenso, mas é um terreno onde se encontram muitas forças urbanas de valor. Queríamos seguir por esta linha, não valorizando só a frente do complexo, mas todo o seu interior também. Então, levamos um pequeno oásis lá para dentro, com jardins, bosques, árvores e espaços de lazer completamente acessíveis”, acrescenta a arquiteta.
Para o diretor de novos negócios da Unique MCA, André Brito de Araújo, o grande diferencial do projeto está justamente em priorizar a qualidade e não o volume de construção. “O projeto é 25% menor em estrutura construída em relação ao que poderia ser feito ali. Mas não é com isso que estamos preocupados. Nosso foco é a qualidade das unidades, a boa estética e a qualidade de vida das pessoas que vão morar ali. Isso é muito mais significativo”, diz.
Segundo André, esse já era o tipo de empreendimento que a Unique MCA queria desde o início, antes mesmo de oficializar a compra do terreno. “Aquela área tem muito potencial e isso nos saltou aos olhos desde sempre. Queríamos aproveitar esse lado, extrair o máximo dele e, para isso, iríamos precisar de menos construção, o que não era um problema. Se construímos menos, conseguimos agregar valor de outras formas”, explica.
Segundo Mariana, criar projetos com propósito é uma tendência em alta na arquitetura, na construção civil e em todos os negócios que produzem valor, o que pode mudar a direção construtiva das cidades e gerar impactos positivos em todo o seu entorno. “Precisamos pensar na cidade para as pessoas, não em uma cidade fechada e cercada de empreendimentos que beneficiam só quem mora nele”, reforça. A ideia de um espaço comercial aberto vem desse propósito. É uma forma de abrir passagens para o uso público dentro de um terreno privado. “Todos usufruem, desde quem está passando, até quem mora ali”, completa.
A obra do complexo Cais ainda não tem prazo para iniciar, pois o projeto está em fase de trâmites legais. “A boa notícia é que o empreendimento já vai nascer premiado”, reforça o diretor.