Quando parte do rosto está coberto por uma máscara, os olhos assumem o protagonismo na expressão das emoções. São eles que têm revelado nossos sentimentos nos últimos tempos, especialmente os de tristeza e apreensão pelos que contraíram a Covid-19 e os de alegria diante dos que se curaram da doença. “Os olhos passaram a ser nossos sorrisos e também o nosso símbolo de esperança. E a íris tornou-se a atriz principal, pois tivemos que aprender a ‘ajustar o foco’ para filtrar as cenas e enxergar melhor as belezas do mundo”, afirma a arquiteta Graziella Oliveira, sócia da Progetta Studio, ao explicar o conceito do espaço que assina na CASACOR Santa Catarina ao lado do sócio, o arquiteto Allan Chierighini.
Com 110 metros quadrados, o Loft Íris integra home theater, office, sala de jantar, área gourmet, suíte máster, closet, área de banho e lavabo. E foi projetado pela dupla para expressar os desejos das pessoas para o morar pós-pandemia, seguindo a proposta do tema nacional na mostra – “Casa Original”. “A íris é o verdadeiro espelho da alma, e como devemos retirar algo positivo dos momentos difíceis, trouxemos para o ambiente a biofilia como algo a proporcionar momentos positivos”, argumenta Allan, considerando o interesse cada vez maior das pessoas pela aproximação com a natureza. A biofilia está presente na especificação de materiais como a madeira Sucupira certificada escolhida para o forro e a pedra natural aplicada em detalhes, e de tecidos sustentáveis, produzidos a partir de sobras e retalhos. Ventilação e iluminação naturais e permanentes fazem parte do ambiente.
Despertar das emoções
A ligação com a natureza também está evidenciada nas obras de arte escolhidas para o espaço. São trabalhos da artista Patrícia Vieira que apresentam detalhes hiper-realistas, como a “Paredão Funchal”, que referencia a cidade de Funchal, capital do arquipélago da Madeira, em Portugal. “As poderosas formações rochosas, de origens vulcânicas, emanam uma energia indescritível, gerada durante os milhares de anos da criação do arquipélago. A natureza que rodeia o paredão rochoso vibra em sintonia com a atmosfera da Ilha, trazendo um êxtase de emoções e um encantamento com as belezas naturais e cores”, considera a artista.
As emoções deverão ser mesmo despertadas em quem visitar o ambiente, reforçadas pelo potencial da iluminação cênica projetada e pela proposta cromática adotada pelos arquitetos. Foram escolhidas cores e tonalidades comumente encontradas na natureza, como os tons terrosos do sofá Natuzzi e os tons de verde dos tapetes em couro e veludo, compondo com elementos nas cores cinza e preto. “Os tapetes circulares remetem ao formato da íris e das lentes oculares”, pontua Grazi. Na mesma linha, a dupla escolheu um espelho em semicírculo para o lavabo. Na cozinha, destaque para a bancada em pedrão sabão, natural e resistente ao calor. O mobiliário sob medida combina MDF Cinza Urban, madeira pau ferro e espelhos na tonalidade fumê.
O porcelanato Portobello eleito para o revestimento do piso tem aparência similar à da pedra Bleu de Savoie, existente nos alpes franceses e considerada uma das mais raras do mundo, de tom cinza azulado. A decisão de especificar piso de tom claro e, em contraponto, forro de tom escuro, atende a proposta de proporcionar conforto emocional ao usuário. “A solução cria uma atmosfera mais acolhedora, remetendo à sensação de abrigo natural”, explica a arquiteta.
Amplitude e tecnologia
No Loft Íris, a amplitude é mais do que uma característica: é uma provocação. “A área social do Loft foi pensada de maneira a confrontar o mercado imobiliário atual, que insiste em construir apartamentos pequenos e caros, ainda mais diante do momento de pandemia, que deixou muitas famílias enclausuradas nessas habitações, sem poder fazer uso das áreas sociais dos condomínios por determinação dos decretos estaduais e municipais pelo Brasil afora”, ressalta Allan.
Assim, a dupla projetou um espaço amplo com ambientes distintos, mas integrados. Essa amplitude é reforçada pela estratégia de repetição de acabamentos, cores e materiais nos ambientes, proporcionando impacto visual de unidade, continuidade e linearidade. O layout atende às características multifuncionais que as casas assumiram nos últimos tempos. “A disposição dos ambientes propõe possibilidades de trabalhar, contemplar um bom filme ou shows durante o dia e noite, receber amigos e parentes para um evento gastronômico, uma confraria de vinho ou para uma reunião de clube do livro, e, talvez, por ser amplo, o espaço pode atender também às necessidades de um morador que trabalha home office com seu canal do YouTube ou mesmo fazendo reuniões e palestras via live”, explica Graziella.
A proposta arquitetônica faz referência ao layout dos lofts americanos da década de 50. Porém, agregando o que há de mais atual em tecnologia, pelo conforto e praticidade que a automação proporciona ao usuário.
A tecnologia está presente nos eletros, na iluminação, nas persianas e cortinas e também nos materiais, associada a um eficiente sistema de automação. Entre os destaques estão a cama articulada com sistemas de massagem e ionização; flap de TV no teto com giro de 360 graus que possibilita o direcionamento da televisão tanto para a área de dormir como para a sala de banho; pendentes de iluminação com cromoterapia na sala de banho; estação de vinhos que permite melhor conservação da bebida; e até parrilheira com sistema de controle do assado à distância, via aplicativo. “Entendemos a tecnologia, simbolicamente, como o elemento de consciência humana e o ambiente, a residência, como organismo vivo. A possibilidade de controle da habitação é algo como Deus sobre o controle dos elementos da natureza e o universo”, finaliza Allan.
Sobre os arquitetos
A Progetta Studio, dos arquitetos e sócios Allan Chierighini e Maria Graziella Oliveira, atua no mercado catarinense desde 2007 e se destaca por projetos contemporâneos e sofisticados. O uso de tecnologias e conceitos sustentáveis, como automação, energia solar, iluminação e ventilação natural, são os principais diferenciais do escritório. Desde 2020 o escritório vem atuando em São Paulo, o maior polo da arquitetura brasileira.
Fotos: Lio Simas / Divulgação