No próximo sábado terá início a primeira edição do Projeto Monte Serrat Cor, que prevê a revitalização dos espaços, a criação de áreas de convívio, restauração de edificações tombadas e, ainda, a implementação da coleta seletiva de lixo e a capacitação profissional dos moradores do bairro Monte Serrat, na região central de Florianópolis (SC).
O Movimento Traços Urbanos, que integra pessoas de diversas áreas pela requalificação dos espaços públicos de Florianópolis, assumiu a coordenação e o desenvolvimento dos projetos de arquitetura e urbanismo e de paisagismo, a convite da WOA Empreendimentos Imobiliários, idealizadora do Monte Serrat Cor dentro do programa ‘Além Muros’ – que trabalha com projetos de educação e a revitalização de espaços públicos, e Instituto Vilson Groh, com apoio da Tintas Renner, Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Companhia Melhoramentos da Capital (Comcap), Centro Pastoral Espiritualidade, Floram, Conselho Comunitário do Monte Serrat, Prefeitura Municipal de Florianópolis, Casan e Movimento Traços Urbanos
Neste dia 1 de julho, as atividades serão iniciadas com a ação de 100 voluntários e moradores da comunidade em um mutirão de pintura de imóveis de uso comum, como a Igreja, o centro Informa Anastácia, o Centro de Voluntariado, entre outros. Serão também identificados os pontos de coleta de lixo.
REVITALIZAÇÃO
O projeto de revitalização do terreno da Caixa d’Água do Monte Serrat está sendo liderado pelo Movimento Traços Urbanos, que está trabalhando no desenvolvimento das propostas desde o dia 10 de junho, quando um grupo de arquitetos e urbanistas e engenheiros do movimento participou de uma reunião para reconhecimento do local e levantamento do programa de necessidades para criação do espaço de convívio para a comunidade e da restauração de edificações históricas. “Estão previstos, ainda, a ampliação do salão paroquial da igreja existente no local, para qualificação do ambiente urbano”, detalha o arquiteto e urbanista Giovani Bonetti, coordenador do grupo de trabalho Monte Serrat.
O encontro do dia 10 iniciou com um café da manhã na residência do padre Vilson Groh, principal liderança local e apoiador dessa iniciativa, seguida por um debate no salão paroquial com moradores e frequentadores da comunidade. O objetivo era a identificação das atividades de rua realizadas frequentemente, a relação deles com o espaço público, além da compreensão das questões culturais e das demandas, desejos e expectativas de cada um para a região. Em seguida, o grupo de arquitetos e engenheiros do Movimento Traços Urbanos realizou uma caminhada pelas ruas do bairro para a identificação das áreas disponíveis, dos possíveis caminhos e equipamentos a serem criados.
De volta à casa paroquial, o grupo reuniu-se em oficina para o mapeamento do programa de necessidades em relação ao espaço físico existente. “Definimos algumas diretrizes e vamos desenvolver um anteprojeto para discussão junto aos demais membros do Movimento Traços Urbanos ainda neste mês. Até o final de julho, a proposta será apresentada à comunidade”, afirmou Giovani.
SOBRE O MONTE SERRAT COR
“O projeto significa o primeiro passo de uma série de ações que estamos programando visando recuperar esses espaços. É uma ação com início, mas em meio e fim, após o processo de pintura, continuaremos a resgatar a cidadania da comunidade que vive no Monte Serrat, para que os moradores sejam os verdadeiros protagonistas das ações. Queremos e vamos continuar focados na desconstrução de uma visão preconceituosa quanto ao morro, seja o do Monte Serrat, do Mocotó ou qualquer outro”, comenta Waltinho Koerich, diretor da WOA Empreendimentos Imobiliários.
O projeto é inspirado no ‘Mocotó Cor’, evento que já está na nona edição e que, por meio de ações sociais, ajuda a mudar a realidade de uma das comunidades mais vulneráveis da Capital. Seu sucesso fez com que o mesmo seja replicado para o Monte Serrat. O grande incentivador e idealizador desses projetos, o Padre Vilson Groh, que preside o IVG, instituto que leva seu nome, e gosta de frisar que ações como estas mostram que a beleza vence a bruteza. “Até hoje, a comunidade do Monte Serrat é o maior gueto de população negra do Estado, bem como o local que já sofreu muito com a falta de infraestrutura, energia, saneamento. Hoje é uma região que vem crescendo, se desenvolvendo, mas que precisa sim de um olhar diferenciado da sociedade, assim como estamos fazendo no Morro do Mocotó. Nosso foco é a educação pelo trabalho, criar possibilidades para que a própria comunidade busque seu crescimento e seu diferencial”, destaca Padre Vilson Groh. Com o Centro de Voluntariado, também serão ofertados cursos de capacitação. “Nosso objetivo é criar condições para que a comunidade possa viver de emprego honesto, que não se tornem suscetíveis ao mundo do tráfico”, complementa.
E mesmo antes da primeira edição o projeto já rende bons frutos. Uma parceria foi firmada com a Comcap para que a comunidade passe a ter coleta seletiva de lixo. A Prefeitura de Florianópolis, por meio da Comcap, se dispõe a melhorar as condições da coleta de resíduos na comunidade. Além da manutenção das duas caixas estacionárias para recolhimento de rejeito (coleta convencional), a Comcap planeja instalar pontos de entrega voluntária (PEV) móveis para resíduos volumosos, como móveis e eletrodomésticos. A comunidade ficou de identificar três pontos nos quais será feito esse rodízio com caçambões. “Assim que os pontos forem escolhidos pela comunidade, faremos vistoria para ver se os caçambões podem ser colocados e retirados em segurança”, informa o diretor de Operações, Ricardo Leal. Serão colocados de forma alternada a cada 15 dias, explica.
Por proposição do IVG, Conselho Comunitário e Escola Marista, será desenvolvida ação com a população para conscientizar sobre a importância da separação e destinação correta dos resíduos. Com vistas a implantar a coleta seletiva de materiais recicláveis no Monte Serrat. A ideia inicial é que a comunidade identifique dois locais onde possam ser colocados os contentores, que serão fornecidos pela Comcap, para acondicionar materiais recicláveis secos como papel, plástico, metal e vidro. A coleta será especial em frequência que dependerá da adesão da comunidade. A Comcap mantém uma rede de quatro Ecopontos na cidade, o mais próximo do Monte Serrat é o do Itacorubi, onde podem ser entregues resíduos volumosos e mesmo os recicláveis.
“Muito mais do que a revitalização das áreas, o nosso objetivo é trazer a lente da sociedade e órgãos competentes para a realidade desta comunidade. Com a somatória de esforços e atitudes podemos sim construir um mundo melhor, a transformação depende de cada um de nós. Como diz o padre Vilson, sim, a beleza vence a bruteza, mas a beleza não apenas pela estética, mas pelos atos, pelo propiciar a está comunidade uma nova oportunidade de ser o próprio protagonista de sua história”, finaliza o empresário Waltinho Koerich.
Sobre o Movimento Traços Urbanos
Planejar e executar ações que contribuam para a requalificação dos espaços públicos e de uso coletivo de Florianópolis. Essa é a meta do movimento Traços Urbanos, formado por um grupo transdisciplinar com pessoas de diferentes competências e áreas de atuação. Em comum, elas compartilham o interesse de transformar a cultura urbana a partir da revitalização de diversas regiões da cidade, de forma voluntária. Iniciado em agosto de 2016, idealizado pelos arquitetos e urbanistas Giovani Bonetti e Silvia Lenzi, a partir de uma conversa informal entre amigos, o movimento foi sendo ampliado e hoje reúne 170 pessoas, entre arquitetos, engenheiros, designers, jornalistas, artistas plásticos, guias de turismo, fotógrafos e educadores, atuantes nos setores privados e públicos. Os membros mantêm contato permanente pelas redes sociais e aplicativos de conversas e reúnem-se periodicamente na sede do Museu da Escola Catarinense (MESC), no coração da área que chamam de Distrito Criativo, ao leste da Praça XV de Novembro. Essa é a região-alvo das primeiras ações desenvolvidas pelo Movimento Traços Urbanos.