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Eventos

Exposição Atomic Shadows revela um engenheiro com alma de artista e consciência ativista

Por maio 10, 2019maio 13th, 2019No Comments

Em cartaz no MESC até o dia 25, a exposição apresenta montagens artísticas de registros fotográficos em centros urbanos e pode ser considerada um divisor na carreira de Olavo Kucker Arantes. “Nossa temática é uma reflexão do ambiente onde vivemos e do perigo de pesquisas com uma energia que não temos a mínima ideia de como conter. O perigo de estarmos manipulando esses elementos radioativos é de extremo perigo para a gerações futuras”, diz.

 

Num universo dominado pela mentalidade realista de obras de concreto, Olavo Kucker Arantes percebe as sensações e a poesia. É assim, acostumado a viabilizar ideias e traçar planos numa atribulada rotina como engenheiro que confirma o quanto o limite entre a arte e as exatas pode ser bastante tênue.  Sem um ponto exato para o início da produção artística, mas, talvez, do reencontro com um antigo amigo, surgiu a inspiração e a vontade de fotografar.

Às suas fotografias, Olavo juntou elementos das colagens digitais e as infinitas possibilidades dos modernos aplicativos para criar montagens artísticas de registros da vida em centros urbanos. A aventura no mundo das artes agora é apresentada ao público pela primeira vez em exposição.  “Não sou um pessoa que gosta de expor muito meu trabalho, acho sempre que ele não está pronto”, confessa Olavo.

A ‘obra’ não só está pronta como faz parte do roteiro de mostras do Museu da Escola Catarinense, da Universidade do Estado de Santa Catarina (MESC/Udesc). A exposição ‘Atomic Shadows’, em cartaz até o dia 25 de maio, reúne obras de Olavo e do artista Marco Aurélio Ramos, em imagens desconstruídas. “Nossa temática é uma reflexão do ambiente onde vivemos e do perigo de pesquisas com uma energia que não temos a mínima ideia de como conter. O perigo de estarmos manipulando esses elementos radioativos é de extremo perigo para a gerações futuras”, alerta Olavo.

A exposição Atomic Shadows é composta por cinco obras de Marco Aurélio e cinco de Olavo. As fotografias destacam a essência das perdas diárias da rotina e do valor aos fatos e coisas que estão no nosso cotidiano. “A paisagem não é percebida pelo habitante usual do lugar, ela não te surpreende depois de algum tempo devido ao costume de vê-la todos os dias. É claro que, como estamos absorvidos nos problemas do cotidiano e nosso foco está em resolver nossos problemas pessoais, não nos damos conta do que temos ao nosso redor. Quem faz isso muito bem é o forasteiro. Ele chega num novo lugar percebe todas as nuances da paisagem”, enfatiza Olavo sobre os olhares diante da vida urbana.

Duas obras, uma de Olavo e uma de Marco Aurélio, receberam a interferência da artista Juliana Hoffmann, também engenheira de formação.  “Trabalhamos sobre uma mesma regra que criamos referentes à manipulação das nossas imagens originais, mas cada um de nós interpreta e desenvolve sua linha. Nossos painéis buscam trazer um momento de reflexão”, destaca Olavo.

Um curioso apreciador da arte

Olavo Kucker Arantes é engenheiro de Produção Civil formado pela UFSC, em 1986, mestre em Engenharia de Produção e Sistemas e tem uma reconhecida trajetória na área do Meio Ambiente. Durante décadas atuou como Diretor de Meio Ambiente do Sinduscon da Grande Florianópolis e, atualmente, preside o Conselho Brasileiro de Construções Sustentáveis. À frente da Dux Arquitetura & Engenharia Bioclimática ao lado da sua mulher, a arquiteta Maria Andrea Triana Montes, oferece consultoria de estratégias de inovação e sustentabilidade para incorporadoras, construtoras e escritórios de arquitetura, auxiliando no desenvolvimento dos projetos.

Depois de um afastamento temporário da sua câmera fotográfica, companheira desde os tempos de colégio, Olavo retomou a paixão pela fotografia e transformou o hobby num ‘divisor de águas’. “Eu frequentava muito o círculo de fotografia da cidade. Mas nunca expus nada. Sempre levava minha câmera para todos os lugares. Por muito tempo, ela ficou de lado, mas nunca completamente. Anos mais tarde, com outro amigo, montamos um laboratório para revelar nossos filmes em P&B e nos reuníamos com várias pessoas que eram aficionadas. Elas se tornaram profissionais e eu me aprofundei na engenharia. Alguns anos atrás, senti uma grande necessidade de voltar a fotografar. E experimentar mais”, conta Olavo.

A experimentação fez com que as coisas acontecessem e o encontro com o amigo artista Marco Aurélio Ramos deu origem ao primeiro trabalho ‘profissional’ que resultou na primeira exposição. Enquanto Olavo vive sua estreia, Marco Aurélio é um veterano em exposições, premiações e produções audiovisuais. Ele é um dos fundadores do Núcleo de Fotografia de Florianópolis, criado em 1979, e do Grupo de Exposição de Arte na Rua, que desde 1982 reúne trabalhos autorais de diversos artistas em exposição, aos sábados, na Praça Pereira Oliveira, em Florianópolis. “Quando discutimos o projeto, tanto o Marco quanto eu já havíamos passado pelo processo de trabalhar com colagens sobreposição de imagens. Costumávamos ‘destroçar’ os filmes em pelicular para verificar o que obtínhamos de novo”, revela.

A inspiração do engenheiro artista está na música, principalmente, a contemporânea. Bjork, Peter Gabriel e Robert Fripp estão entre suas preferências. “Mas outros, como Steve Reich, Philip Glass ou mesmo Poppy Ackroyd me inspiram todo o tempo, seja em meu trabalho profissional com no artístico”, acrescenta. Olavo conta que, no período em que morou na Inglaterra, entre 2014 e 2015, conheceu Oxford Improvisers, um grupo experimental. A produção sonora da banda, sem regras e estruturas e com muita improvisação, instigou o artista a tentar essa inovação nas fotografias, aproveitando os recursos da tecnologia.

No entanto, nada surge fácil e toda produção de Olavo começa com um período de muito estudo e muita pesquisa. O artista reserva um dia da semana e os finais de semana para esse processo, mas também depende muito do tamanho e da quantidade dos projetos em andamento no seu escritório. “Muitas vezes ando com alguns projetos ao mesmo tempo, mas todos com timing muito diferentes” pontua.

Ele busca aperfeiçoamento constante e, por isso, resolveu voltar à faculdade para estudar Fotografia, na Univali. “Minha carreira define muito meu olhar e para onde direciono meus projetos. Tenho muito mais facilidade de lidar com espaços do que com pessoas puramente. Venho de uma área técnica e também da interface do homem com esse ambiente. Essa relação para mim flui muito mais. Minhas imagens não são puramente um registro de um evento único, mas, sim, a soma de vários deles, criando uma dimensão diferente. A engenharia te faz sempre essa pergunta: podemos fazer diferente? Ou existe outra forma ou função para resolver?”, destaca. É com essa incerteza que Olavo cria e recria o olhar para registrar as cenas urbanas de um jeito único e peculiar.

 

* Com edição de Letícia Wilson

 

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