As soluções de ecoeficiência planejadas pela equipe da ES Arquitetura para uma indústria têxtil de Nova Veneza (SC) renderam ao projeto a conquista do prêmio Destaque Sustentabilidade na sétima edição do Prêmio Saint-Gobain Arquitetura Habitat Sustentável, entregue na última semana. O projeto também conquistou o primeiro lugar na modalidade comercial da categoria profissional.
O projeto é assinado pelo arquiteto e urbanista Diego Espírito Santo, titular da ES Arquitetura, de Criciúma, que contou, na equipe, com a participação dos arquitetos Carolina Rodrigues Cataldo, Dineu Borba Neto, Laércio Stolfo Maculan, Rodrigo de Carvalho Estrella e Valério Montes Doca.
A indústria têxtil, com 10.883 metros quadrados, será implantada em um terreno com área total de 50 mil metros quadrados de maneira linear, otimizando o fluxo de colaboradores para a eficiência da produção local. “O projeto visa estimular o crescimento da região e marcar uma iniciativa de projetos ecoeficientes para a cidade de Nova Veneza, colocando-a na rota de grandes obras arquitetônicas voltadas para o desenvolvimento das cidades com responsabilidade social e urbana”, destacam os arquitetos.
Segundo eles, o projeto foi desenvolvido com premissas de sustentabilidade com objetivo de provar que é possível construir grandes obras industriais de maneira racional, minimizando impactos ambientais, iniciativa, esta, que poderá estimular a ecoeficiência na construção civil. O programa de necessidades previa guarita, lojas, estacionamento, refeitório, escritório, Centro de Distribuição, expedição, área de corte, área de depósito de tecidos, depósitos em geral, espaço de customização, laboratório, espaço de Convívio, BWC e vestiários, bicicletário, reservatórios.
Estratégias de sustentabilidade
Para o conceito inicial da proposta foi traçada uma via principal a qual separa os pavilhões (onde ocorrem as principais funções da empresa) dos container (destinados para o usos e funções secundárias, como depósitos, banheiros, bicicletário, vestiários, laboratório, espaço de convívio e uma célula de costura). Por ser uma empresa já existente a qual fazia uso de cinco containers, optou-se pelo reaproveitamento dos mesmos e foram adquiridos os restantes provenientes do Porto Hidroviário de Itajaí/SC. O desenho e caimento das coberturas remete à Serra Geral, localizada aos fundos do complexo, buscando criar integração visual e analogia à paisagem a qual a indústria esta inserida.
Foram realizadas simulações de insolação em conjunto com o processo de concepção projetual do complexo a fim de garantir que todas as estratégias utilizadas estavam adequadas. A partir destas análises, foram definidas as orientações de aberturas dos pavilhões e dos containers. Os painés de vidro localizam-se ao sul, por não receber insolação direta, enquanto que a face norte recebe proteção de um beiral que se estende de modo a barrar a incidência do sol no verão, permitindo apenas a entrada de parte da iluminação no inverno. Toda a face leste do pavilhão de escritório possui grandes brises de madeira para barrar a insolação por ser um local de trabalho, evitando o ofuscamento.
A cobertura dos pavilhões recebeu aberturas por meio de domus prismáticos, que permitem a passagem de iluminação, porém barram a incidência direta, tornando a iluminação difusa. Os ambientes destinados para momentos de lazer, como o espaço de convívio, foram orientados a leste, para receber o sol da manhã.
Eficiência energética e conforto térmico
A fim de diminuir os gastos de energia elétrica com ar condicionado, foi utilizada a estratégia de ventilação por diferença de pressão, o qual ocorre através das galerias subterrâneas localizadas abaixo da passarela principal de circulação. O sistema funciona a partir de um insuflador que realiza a sucção do ar por uma galeria matriz que passa pelo espelho d’água, onde é resfriado e destina-se para as demais edificações, distribuído pelas galerias secundárias, localizadas abaixo dos pavilhões.
Este ar é liberado por aberturas localizadas próximas ao piso e por diferença de pressão devido a sheds de ventilação localizados nas extremidades superiores dos pavilhões, é realizado a troca de ar, mantendo o ambiente sempre com climatização agradável com o intuito de evitar a incidência de calor nos containers, foi proposto a utilização de ecotelhado, brises horizontais na face norte e uma vegetação vertical em cabos de aço nas faces leste e oeste nos containers onde ocorrem funções com fluxo direto de pessoas – célula de costura, laboratório, vestuário e espaço de convívio.
O paisagismo também foi pensado com a premissa de conforto térmico para os espaços de convivência da indústria, para proporcionar sombreamento nos locais de permanência temporária dos funcionários. As árvores e vegetações localizadas na entrada do complexo industrial funcionam como uma barreira visual e acústica devido à rodovia, de modo a tornar o funcionamento interno mais restrito.
O terreno carece de vegetações, tendo apenas em lotes vizinhos, visto esta condicionante uma das premissas projetuais foi destinar um espaço de 10.502,50 metros quadrados para a rearborização do terreno utilizando de vegetações nativas da região, como ipê e butiazeiro, assim como o reaproveitamento das poucas árvores já existentes no local. Todo o projeto busca integrar o paisagismo no complexo industrial, aliando com estratégias bioclimáticas e também com o objetivo de trazer melhor qualidade de trabalho para os colaboradores da empresa, como a criação de jardins internos entre pavilhões, plantação de hortas e pomares, visando uma promenade architecturale.
Estrutura
A base estrutural do projeto será feita em concreto armado com esperas e conexões metálicas para a estrutura de madeira engenheirada, as quais já chegam prontas ao canteiro de obra sendo necessário realizar apenas a montagem, assim como os containers e todas as paredes internas, feitas também de madeira maciça. Deste modo, o processo de construção torna-se mais rápido e prático, diminuindo significativamente a quantidade de resíduos gerados como ocorre em construções comuns.
Nas definições de projeto, foram especificados placas Fotovoltaicas, Domus Prismáticos, Parede Verde, uso de vidro laminado 4+4, esquadrias de alumínio, paredes maciças de madeira, container reciclado, Eco Telhado, Piso Vinílico, Venezianas Luxvent, Isolamento em Lã de PET, Compensado Naval, Aproveitamento de água pluvial, Iluminação em LED, Madeira Engenheirada, Concregrama, Galeria de Ventilação e Telha Sanduíche.
A água pluvial captada passa por um sistema de separação de folhas e detritos para ser utilizada nas bacias sanitárias e torneiras externas. Para economia de água foram utilizados equipamentos sanitários Dual Flux, além de misturadores, torneiras e chuveiros econômicos nos banheiros e vestiários.
O esgoto do complexo industrial será tratado por um sistema integrado, o qual será destinado para o Vermifiltro (filtro com organismos vivos para filtragem de parte da matéria orgânica), após isto, filtra-se o resíduo servindo de alimento para as plantas, e por fim vai para a cama de cascalhos para a filtragem resultando em uma água rica em nutrientes para irrigação de todo o terreno.
Todos os materiais utilizados possuem propriedades capazes de serem recicladas, objetivando a conservação dos recursos naturais, também possuem baixa toxicidade, priorizando a saúde dos colaboradores. Além disto, os produtos garantem responsabilidade social a partir de certificações dos materiais aplicados.