A arquiteta e urbanista Sheila Patrícia de Andrade, natural de Xaxim (SC), foi a vencedora nacional do I Prêmio Rosa Kliass – Concurso Universitário Nacional de Paisagismo, promovido pela Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas (ABAP) em parceria com o CAU/SP. O trabalho ‘Urbanidade oculta: uma reconciliação entre os espaços livres e as águas urbanas em Xaxim, SC’ foi desenvolvido ao longo de dois semestres no ano de 2016, orientado pela Prof. Daiane Valentini, no curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) – campus Erechim.
“O sentimento de realização, por ter o trabalho reconhecido é muito forte. É uma alegria muito grande ver que algo que dedicamos tanto tempo, carinho e cuidado tenha esse alcance. Competimos com trabalhos provenientes de grandes instituições do sul do país. Portanto, é uma honra muito grande levar o nome da UFFS, uma universidade tão nova, em nível de reconhecimento nacional”, orgulha-se Sheila. A universidade foi criada em 2009, pela Lei Nº 12.029, e abrange mais de 400 municípios da Mesorregião Grande Fronteira Mercosul – Sudoeste do Paraná, Oeste de Santa Catarina e Noroeste do Rio Grande do Sul.
Para Sheila, é importante que o planejamento urbano e as soluções que dele derivam sejam explorados nas cidades pequenas para que se desenvolvam desde o início com espaços de qualidade. “Ademais, sinto-me comprometida a contribuir com o desenvolvimento da região por ter me formado aqui e conhecer os desafios de estar no interior. Esse projeto partiu da minha motivação em refletir sobre o Rio Xaxim, hoje parcialmente canalizado e invisível à população, aliado à escassez de espaços verdes públicos na área urbana e os problemas de drenagem decorrentes disso. São poucos a possuir a consciência da presença dos rios na cidade. É mais comum que isto aconteça quando eles transbordam e interferem na rotina das pessoas. Portanto, o objetivo principal é de ressignificar o espaço do rio, resgatar a memória e devolvê-lo às pessoas, e com isso, melhorar a qualidade de vida”, afirma a profissional.
Sobre o prêmio
O concurso teve a participação de 57 trabalhos de graduados em Arquitetura e Urbanismo no ano de 2016 em cursos aprovados pelo Ministério da Educação de todo o país. Cada instituição teve a chance de indicar até dois trabalhos finais de graduação de qualquer porte na área da arquitetura paisagística, de planejamento da paisagem, de pesquisa histórica ou de crítica da área. “Verificamos que há muitos estudantes do Brasil inteiro, de Norte a Sul, interessados no paisagismo. E isso é muito positivo, porque indica que vamos ter cada vez mais arquitetos e urbanistas nessa área”, comemora Nina Vaisman, presidente da Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas (ABAP).
O I Prêmio Rosa Kliass teve duas fases: na primeira, foram selecionados cinco vencedores regionais pela comissão julgadora; na segunda fase, foi eleito, entre os selecionados, o vencedor nacional. A escolha foi referendada pela própria Rosa Kliass, uma das pioneiras da Arquitetura Paisagística no Brasil, militante pelo reconhecimento no país da “Arquitetura da Paisagem”, como ela gosta de mencionar, fundadora e primeira presidente da Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas (ABAP), em 1976.
Presente à cerimônia de premiação, em novembro passado, na sede do IAB/SP, Rosa Kliass celebrou o alto nível dos projetos inscritos. “Fiquei impressionadíssima com a qualidade dos trabalhos. Chamou minha a atenção a abrangência dos escopos. Os estudantes realmente absorveram a questão da Arquitetura de Paisagem no planejamento da cidade e retiraram das situações soluções próprias e funcionais”, destacou.
Os autores dos cinco trabalhos vencedores regionais do I Prêmio Rosa Kliass receberam R$ 1.000 e um troféu elaborado pela ceramista Heloisa Nunes. Os seus respectivos orientadores e a instituição de ensino receberam certificado de premiação. Além do trabalho vencedor nacional, e dos outros quatro vencedores regionais, foram concedidas sete menções honrosas. Da região Sul, a Menção Honrosa foi para o trabalho “Conexão de espaços livres na área central de Santa Rosa, RS”, desenvolvido por Gustavo Dörfschmidt sob a orientação do professor Fábio Müller, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria (RS).
A comissão julgadora do prêmio foi composta pelos arquitetos e urbanistas Vera Tângari, Luciano Fiaschi, Barbara Prado, Alessandro Filla Rosanelli, Eduardo Barra, Monica Bahia Schlee, Luciana Sckenk, Fabio Robba, Luiz Vieira, Alexander Hulsmeyer, Paulo Pellegrino, Ligia Paludetto e Rosa Kliass. Os jurados de uma região não avaliaram os trabalhos de suas próprias regiões.
Sobre o projeto vencedor:
A proposta busca a reconexão dos cidadãos com o rio urbano, resgatar os espaços para pessoas de lazer e comunitários e também tem a pretensão de ressignificar o rio urbano a partir da qualificação de um sistema de espaços livres articulado ao planejamento municipal. Este projeto se localiza na cidade de Xaxim, com aproximadamente 27 mil habitantes no Oeste de Santa Catarina, e que tem presente em sua malha urbana o Rio Xaxim, hoje parcialmente canalizado e invisível à população.
O trabalho abrange a definição de um sistema de espaços livres a partir de uma análise tipo-morfológica e morfofuncional da área de estudo, com produção de dados georreferenciados, e resulta no projeto paisagístico de duas áreas chave para a drenagem urbana onde corpos d’água estão presentes. Partiu de uma pesquisa sobre toda a conformação geográfica do rio Xaxim e da identificação dos espaços livres (não edificados) que pudessem ser importantes para a composição de um Sistema de Espaços Livres, além de observar os conflitos urbanos como alagamentos e ocupações indevidas na área de influência do sistema.
Após a sistematização dos dados em Sistema de Informações Geográficas (SIG), puderam ser identificadas as áreas de projeto paisagístico mais interessantes para um primeiro momento de implantação, e com o projeto de cada uma dessas áreas a proposta foi concluída. Fez-se necessário o planejamento dos terrenos selecionados para serem parte integrante deste sistema, aplicando as diretrizes gerais e demais diretrizes específicas de cada localidade, previamente identificadas.
O primeiro recorte apresenta um caráter urbano de apropriação humana e de afloramento do rio Xaxim hoje canalizado, e o segundo se aproxima da discussão da preservação ambiental junto às escolas da cidade a partir de visitação e roteiros exploratórios, bem como de espaços que deem suporte aos moradores do seu entorno a partir de equipamentos como horta comunitária, viveiro de mudas e feira comunitária. A proposta como um todo traz consigo o uso de estratégias de infraestrutura verde como valetas de bio-retenção, áreas de infiltração e de aumento da permeabilidade do solo a fim de mitigar os efeitos das enxurradas que recorrentemente trazem prejuízos aos moradores das áreas próximas ao rio.